28 de fev. de 2011

José Salgueiro lança um novo livro... aos 92 anos...

É assim José Salgueiro, o Mestre Salgueiro, o sábio das plantas medicinais e ... da Vida!
um exemplo de preserverança, de boa disposição, de verticalidade (como sublinhou o Autarca Carlos Pinto de Sá), sábio da simplicidade e um exemplo para os que se acomodam... perante a sua vontade férrea de Viver cada dia com a Poesia na Alma, não abdicando de tirar o melhor da Vida, de transformar a realidade, por mais dura e negra que possa parecer, numa benção que temos o direito e dever de dignificar, de Amarmos a Natureza amando-nos a Nós próprios, com a serenidade de sabermos Amar e aceitar o Amor... pois se nos Amam é por o merecemos!...
O seu exemplo é uma indicação perene que o Caminho faz-se de preserverança e luta pela Verdade, pela Beleza, onde não há lugar para perder tempo...
Pois é, lá tive mais uma vez a difícil tarefa de apresentar o seu  novo livro "Extractos do Meu Sentir", apresentado no passado dia 26 na Biblioteca Municipal Almeida Faria, em Montemor-o-Novo, de que escrevi o prefácio... e ele, com aquela enorme pujança, lá foi avisando que tem três livros na calha - um sobre Medicina Tradicional, uma biografia romanceada (que vai ter a colaboração da Manuela Rosa), e um quarto livro de Poesia - por entre os elogios aos colegas de Mesa - ao Carlos que quase viu nascer, ao Fernando (Mão de Ferro, da Colibri) e aqui ao escriba - enormes e excessivos elogios, que vindos do Homem tão sábio, me deixam vaidoso, mas naquele momento tão envergonhado que, se tivesse "um buraquinho metia-me nele"... mas ele sabe do que fala... e lá me foi, publicamente, avisando que em breve estou de novo metido em "trabalhos", por sua causa! ... uma causa que me dá muita força para continuar o Caminho e não desistir nunca!...


Num Passeio Campreste, S. Gens, Maio 2009



Partilho o Prefácio:


"Há Homens e Mulheres que não se limitam a passar pela Vida. Antes pelo contrário; marcam os momentos e os espaços, as vivências e as pessoas. Encontrᬠlos é uma bênção, um privilégio para todos aqueles que são iluminados pela sua vontade férrea e pelo seu poder imenso de sonhar, de partilhar o Sonho e a Beleza com os demais.



O Mestre José Salgueiro é um desses seres únicos que marcam indelevelmente o seu tempo e as gerações posteriores. Seres que pela sua força interior são o centro do universo, onde quer que estejam. Mas Salgueiro distingue¬ se neste universo restrito, mas imenso, por pôr as suas potencialidades ao serviço da comunidade, do bem comum.


Por outro lado, o Mestre Salgueiro é um exemplo vivo de como foi o século XX português no Alentejo, ele que “comeu o pão que o diabo amassou”. Todavia, essa marcante vivência não o tornou um ser triste, azedo, desiludido, antes pelo contrário, mantêm intacta, aos 91 anos, essa particularidade que o caracteriza: uma personalidade de espírito aberto e entusiasta, ainda com muitos sonhos para cumprir.


Ao mesmo tempo revela de forma analítica rara, uma enorme lucidez social. José Salgueiro não se “aburguesou” e assume¬ se com uma frontalidade na defesa dos seus pontos de vista. Tal característica não denota qualquer espécie de intolerância peran-te factos e ideias. A sua lucidez e visão incisiva perante uma clara injustiça social actual – reflexo das “nuances” neo¬ liberais que marcam o nosso tempo – não o faz esquecer os seus tempos de meninice, quando a miséria era incomparavelmente mais profunda e flagrante. Como ele próprio escreve, sobre esse tempo em que também começou a apreender a sabedoria ancestral dos Homens e das Mulheres, fruto de uma vivência em harmonia e respeito pela Mãe-Natureza:


Nasci em 1919, num monte afastado 5 km de Montemor. (…) À noite, porque os meus pais trabalhavam de sol a sol, regressávamos a casa, onde só chegávamos pela noite cerrada. Era aí, a um canto do lume, ou seja, à chaminé, enquanto a minha mãe fazia a ceia, que meu pai nos divertia para que o sono não nos atormentasse. Era também ele que nos contava histórias, umas com fantasia, outras verdadeiras, de tudo quanto sabia de si, seu pai, seu avô e muito mais. E assim me foi transmitindo muito do que ainda hoje conservo na memória, referente aos meus antepassados. Como o tempo não parava, foi com 5, 6 anos que comecei a reparar em tudo o que minha mãe fazia, para nos tratar das doenças que nos atormentavam.


E cá estamos perante este ser fascinante, que nos tem deli-ciado nalguns passeios campestres, transmitindo os ensinamentos imensos sobre as “ervas medicinais”, mas também nos tem levado a percorrer espaços paradisíacos existentes no seu concelho encimado pelo Montemaior, um dos lugares mais bonitos do mundo. Nestes espaços que nos seduzem irremediavelmente descobrimos, um dia, que Vida só fazia sentido se vivida intensamente, apaixonada e perfumada; sobretudo depois de sentir o cheiro da morte a rondar. Por isso foi inevitável essa opção radical e plena de viver intensamente cada minuto, no universo romântico e belo das papoilas e das flores de esteva que caracterizam a suave tela das colinas únicas desta Terra abençoada: As colinas da minha aldeia são as mais bonitas do mundo. Essas colinas, que podem ser estas. Mas estas belas paisagens, curiosamente, estão unidas às primeiras através de uma linha do meridiano de Greenwich, como se de dois seres feitos para a comunhão e para o Amor se tratasse.


Nesta suave e doce terra que é do Mestre Salgueiro e que também já sentimos um pouco como nossa, onde vivemos momentos plenos e encontramos pessoas únicas. No prefácio do anterior livro de José Salgueiro, Relatos de uma vida, referi dois amigos. Permitam¬ me hoje falar-vos de duas mulheres, duas amigas: a Manela Rosa, uma apaixonada activa e persistente pela Natureza e pelo meio ambiente, senhora de uma escrita de rara beleza, amiga de mútuas afinidades várias; a Vina (Etelvina Maria), amiga mais recente, mestra de uma diversidade artística mas onde se interpenetram os conhecimento científico e empírico e, como exímia artesã, assume ao pintar de forma tão bela – e assim preservar a tradição – , o suave mobiliário alentejano que sai das suas mãos de talentosa artista.


Podia referir¬ me ao Mestre e ao seu mundo, este mundo que aqui, em traços muitos breves vos trouxe. Mas o mundo de José Salgueiro é o universo; até porque ele é “um animal de palco”, que se sente como peixe na água sempre que se dirige a uma enorme plateia rendida a seus pés. Refiro só dois exemplos: Na concorrida homenagem na Casa do Alentejo, que com outros ami-gos e no âmbito do CEDA lhe prestamos, quando, em Fevereiro de 2009, Salgueiro completou noventa anos e foi lançado o seu ante-rior livro de poesia. No final, o amigo encenador Hélder Costa, despedia¬ se confidenciando-nos com um abraço carregado de emoção: Nunca assisti a um lançamento dum livro com esta pureza, um momento tão grande e genuíno como este.


Na edição da Festa da Primavera deste ano de 2010, na Her-dade do Freixo do Meio, encontrei Mestre Salgueiro na sua banca com muitos chás e livros, a discursar para uma pequena mas entu-siasmada plateia. Quando me viu, abraçou¬ me e apresentou¬ me da seguinte forma: Este é o senhor que escreve os prefácios para os meus livros, o que, como é compreensível, me deixou completamente “encavacado”.


Este é o Homem único e aglutinador que, mais uma vez me destinou a difícil tarefa de escrever o prefácio do seu terceiro livro de poesia. Este livro, no fundo é como que uma continuida-de, pois José Salgueiro no trabalho anterior inicialmente projectava um livro demasiado extenso, acabou por deixar certamente na “gaveta” um alargado conjunto de poemas. Para o nascimento desta nova obra apenas teve que acrescentar outros poemas mais recentes.


Senhor de uma escrita escorreita e sibilina, onde a componente da temática popular é marcante, José Salgueiro utiliza na sua construção poética uma estrutura de tipo tradicional, com uma variedade que vai desde a quadra até à décima, onde o soneto também está presente, descrevendo situações e vivências, qual repórter do quotidiano, fruto da sua longa e rica experiência; como o” filme dos acontecimentos” das privações passadas com a sua família entre 1919 e 1950 que nos descreve através de 37 quadras e 34 sextilhas. Atento observador, dissecando os acontecimentos, seja os passados na sua Montemor natal, mas também o que se passam pelo mundo, desde o Iraque a Timor Mestre Salgueiro, com uma subtileza invulgar e um “olho cirúrgico”, analisa, opina, denuncia as tragédias e as calamidades, fruto tantas vezes dos “interesses soberanos” das poderosas nações do Norte”


Mas para além das questões sociais, das injustiças que conti-nuam a lavrar por esse mundo fora e pelo nosso país, José Salgueiro apresenta¬ nos neste livro poemas que são verdadeiras elegias ao Alentejo, à sua bela cidade de Montemor, ao altivo castelo semi¬ destruído, ao suave rio Almansor, aos (seus irmãos) poetas, à Mulher Alentejana, onde embora se leia quase nas entrelinhas uma certa mágoa e nostalgia, são sobretudo caracterizados por uma grande paixão, por um grande amor pela beleza da terra e dos nobres sentimentos das gentes.


E assim termino esta breve prosa. Provavelmente esperavam um texto analítico dissecando profundamente a Poesia do Mestre. Mas eu, honro¬ me de ser apenas um simples e modesto discípulo, que quase nada sabe de Poesia, apenas sei que não sei viver sem ela, que é, a par do Amor e da Amizade fraterna, a Beleza que faz sentido na Vida.


Parabéns querido Mestre!


Esperamos muito de si e do seu trabalho para que os nossos dias continuem a ser mais luminosos."


Almada, 9 de Julho de 2010



Foto de Manuela Rosa
Foto de Manuela Rosa

E este luminso Poema dedicado à Mulher (do Alentejo)... que ambos adoramos...


À MULHER DO ALENTEJO



Heroína das mulheres
Filha da chuva e do vento
Suportava as intempéries
Sem esboçar um lamento.


Mulher de aço formada
Que Deus fundiu e adora
Ao romper da madrugada
Já ía p´los campos fora.


É a mulher ideal
Desde a cozinha à costura.
Nos campos de Portugal
É professora e rainha.


Era vê-la a trabalhar
Quer fosse de dia ou de noite

Nas cavas ou a ceifar
Das outras sobressaía.


Aquela que mais sofria
Com a dieta forçada
Com vergonha, só comia
Das outras, muito afastada.


Trabalhava todo o dia
À noite fazia a ceia
Depois passava e cozia
A roupa à luz da candeia.

2 comentários:

Paulo Francisco disse...

Desistir nem pensar, né?
Um abraço!

Olhos de Mel disse...

Querido amigo; obrigada pela visita e pelo carinho! Gostei muito de tudo por aqui. Seu blog é informativo, cultural e gosto disso.
O livro deve seu muito bom e bem interessante. Gosto da medicina alternativa. E a nossa natureza é rica nesse sentido. Mas nem todos sabem valorizá-la.
O lindo poema é uma homenagem muito bonita!
Beijos