21 de out. de 2010

(ainda) a República , o aniversário do CEDA e...a Poesia, sempre!


                                                          A República ontem e hoje

O ciclo de Conferências "O Alentejo e a 1ª República" foi um co-organização das três entidades – por proposta do Centro de Estudos Documentais do Alentejo-CEDA -, CEDA, Instituto Politécnico e Município de Beja, teve patrocínio da CNCCR, parcerias com os Municípios de Aljustrel, Mértola, Governos Civis de Beja e Setúbal, Fundação Mário Soares, apoio da Delta Cafés, hotelaria de Beja, da comunicação social do Baixo Alentejo e ainda dos Municípios de Setúbal, Lisboa e Casa do Alentejo. Muitos meses de trabalho, de muita gente, a Comissão Organizadora composta por: José Filipe Murteira (CMB), José Orta e Miguel Bento (IPB), Manuel Baiôa e Jorge Feio (CEDA), e nós que coordenámos e Francisco Constantino Pinto e Domingos Montemor (Direcção do CEDA),dias e muitas horas de intervenções, debate reflexão levam-nos a deixar algumas reflexões conclusivas:
não estivemos a idolatrar a 1ª República, antes a ouvir alguns dos maiores especialistas na matéria, a debater vários pontos de vista. Todavia, assumimos que participando activamente nas comemorações do Centenário da República, comemorámos a República precursora da modernidade, pelo que trouxe de inovador seja na igualdade dos cidadãos perante a lei, a instauração do laicismo, da escola pública, de uma nova mentalidade perante o obscurantismo ultramontano e conservador - onde após 16 anos os grandes interesses económicos foram buscar o apoio para decapitar de uma penada a frágil mas inovadora e modernizante República. Esta 'caíu' não apenas pela instabilidade, mas sobretudo porque o grande poder económico a derrubou – e esta leitura por vezes não passa das entrelinhas mas deve chegar , preto no branco, aos cidadãos face à atitude deturpadora de alguma 'inteligentzia' da nossa praça que vêem na 1ª República a origem de todos os nossos males, um sistema pior que a Monarquia Liberal e quiçá, que o próprio Salazarismo. Todavia, em História temos que atender ao contexto e tempo histórico: afinal alguém se lembra de denegrir a figura de D. João II, por ter feito justiça pelas próprias mãos?.é  que a 1ª República de facto falhou nas questões sociais, falhou no sufrágio universal, não foi um regime plenamente democrático, mas a razão da sua queda radica na reacção dos grandes poderes económicos da época, quando sentiram que a República podia mexer nos seus interesses, quando, nos anos 20, alguns breves governos da facção de esquerda do Partido Democrático, de Afonso Costa, ensaiou tímidas medidas financeiras de tributação das fortunas, inclusive com ministros socialistas – do antigo Partido Socialista de José Fontana - e então o poder económico resolveu tirar de vez o 'tapete' à República, pois percebeu que não era suficiente a luta política através do partido dos patrões – União dos Interesses Económicos – mas era necessário um Estado centralizado num homem forte, que não beliscasse os seus interesses, antes pelo contrário que os acautelasse e defendesse fortemente, que pusesse na ordem a nova e combativa classe social em ascensão, o operariado influenciado pela Revolução Soviética e pelo pensamento anarco-sindicalista. E surgiu essa figura maquiavélica e “mesquinha de Santa Comba Dão que prejudicou e continua a prejudicar Portugal” (Vasco Pulido Valente) pelo espírito profundamente conservador e anti-liberal, provinciano e doentio em que foram moldadas gerações e gerações. Essa foi a grande herança deixada por Salazar, legado que tem aos poucos deteriorado irremediavelmente (?) a 2ª República. Será que é necessário uma 3ª República para voltarmos ao espírito de 25 de Abril, que resgatou os valores mais nobres da 1ª República e lançou as bases de outros em que a República falhou? Curiosamente os momentos históricos mais marcantes do século XX português tiveram uma ampla participação popular e por isso se fala nas Revoluções do 5 de Outubro e do 25 de Abril. Mas se as questões sociais não foram resolvidas após 1910, como após 1975, quando as conquistas alcançadas com a Revolução começaram lenta mas progressivamente a esboroar-se, apesar de termos uma das Constituições mais democráticas do mundo!...a grande questão está em que depois de esse breve interregno de poucos anos, são praticamente as mesmas famílias que detêm o grande poder económico: assim era no final do século XIX, assim continuou com a República, foram eles que foram buscar Salazar, como de alguma forma deixaram cair Marcelo Caetano - quando perceberam que o regime já não servia para os seus interesses ficarem seguros; e depois do 'sobressalto' de Abril aí estão eles do novo, hoje os grandes responsáveis, a nível nacional, pela crise - e com os seus 'colegas' estrangeiros, da crise a nível mundial. E os governos tratam-nos nas "palminhas", pagam-lhes com o dinheiro dos nossos impostos as dívidas, as falências, as reformas chorudas de cargos virtuais. Os governos fazem lembrar os tenentes da guarda (GNR), presidentes e governadores do salazarismo - que espizanhavam, maltratavam e quando necessário assassinavam os trabalhadores rurais ao minímo incómodo que ousassem causar aos grandes agrários com o "rei na barriga". Ou será que, neste tempo em que vivemos "um triste tempo de anti-utopia" (António Murteira), tempo propiciodor ao alastramento da peçonha da mediocridade, da sabujice e de uma certa forma autoritarismo encapuçado, que conta com a conivência, por vezes de onde menos se esperaria, será que estamos hoje, como no tempo de João Franco em que a monarquia constuticional estava moribunda e é inevitável a mudança de regime?

                                                         X Aniversário do CEDA

Este ciclo de conferências terminaram no dia 4 na Casa do Alentejo com o a homenagem a Brito Camacho, proferida pelo Luís Bartolomeu Afonso da Palma – pai do Luís Afonso – e o Francisco Colaço, Jorge Nunes (Caixa de Crédito Agrícola) e com a participação dos presidentes, já referidos do Município de Aljustrel e do respectivo Centro Republicano, o presidente do CEDA (Francisco Naia) e o representante do Município de Lisboa ( da Comissão Municipal do Centenário).



Seguidamente depois de uma breve apresentação da Memória Alentejana, como já aconteceu nos outros locais, passamos em destaque algumas realizações que marcaram os 10 anos do CEDA, a saber:



A realização de 20 Encontros, Seminários, Colóquios, alguns internacionais – como foi o caso em 2009 em Évora (participações de investigadores portugueses, espanhóis e marroquinos), realizados em outros tantos concelhos alentejanos, sempre em parceria com os Municípios(Câmaras e Juntas de Freguesia), mas também com a Universidade de Évora ou o IPB (neste caso), assim como os Governos Civis, Regiões de Turismo, Associações de Municípios - que fazem chegar a Revista Memória Alentejana aos 47 Concelhos Alentejanos - e diversas entidades públicas e privadas;

a realização de 6 Passeios Campestres no Concelho de Montemor –o-Novo, em colaboração com o respectivo Município e em parceria com a MontemorMel (5 Passeios);

a edição de 5 títulos na colecção “Memória e Escrita Alentejana (parceria com Edições Colibri), 3 Edições da Prémio Literário Pedro Ferro (patrocínio do Governo Civil de Beja,

a edição regular desde 2001 inclusivé da Revista Memória Alentejana, a única neste área do património e da identidade com esta longevidade a sair a Sul do Tejo, distribuída em todas as bibliotecas e associações culturais do Alentejo (Associações do Municípios e DRCA), livrarias de referência Alentejo e Margem Sul, FCSH/UNL (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional – IELT), publicações congéneres no país e Espanha (permutas e parcerias, espaço aberto a investigadores, sejam académicos, autodidactas ou estudantes onde se divulga, comparativamente por edição maior número de livros, periódicos, discos e outros de autores alentejanos ou que interessam ao Alentejo (na mais recente edição foram 23).

Concluindo-se que o CEDA e a Revista Memória Alentejana são espaços de debate, pontos de encontro do saber académico e científico com o conhecimento ancestral do povo alentejano, o encontro entre a tradição e a modernidade,com um espírito de liberdade e de cidadania, plural, democrático, independente, de tolerância em defesa da Identidade, da Memória e dos Patrimónios Cultural e Natural do Alentejo.

Foram então entregues os certificados, como o CEDA distinguiu um conjunto de individualidades Alentejanos pelo seu contributo na valorização da Memória e da Identidade Alentejanas:

Os que quiseram (e puderam) estar presentes: António Nabo – na qualidade de jornalista ( Director da Folha de Montemor), Carlos Pinto de Sá – Autarca - Montemor-o-Novo, Domingos Montemor – Dirigente Associativo- Amareleja (Moura), Diogo Sotero – Dirigente Associativo- Montes Altoa (Mértola),  Etelvina Santos – Artesã e Artista Plástica - Montemor-o-Novo, Fernando Caeiros – Autarca - Castro verde, Francisco Colaço – Dirigente Associativo e Autarca - Aljustrel, Guilherme Alves Coelho – Arquitecto e Dirigente Associativo, Joaninha Cabeção – Contadora de Estórias - Cabeção (Mora), João Paulo Ramôa – Empresário Alentejano e Homem de Cultura - Beja, Jorge Nunes – Dirigente Associativo - Santiago do Cacém, José Chitas- Dirigente Associativo e Autarca - Mora, José Orta – Antropólogo e Poeta- Beja, José Salgueiro - Mestre das Plantas e Poeta - Montemor-o-Novo , Joseia Matos Mira – Escritora e Poetisa - Baleizão (Beja), Luís Bartolomeu Afonso da Palma – Dirigente Associativo e Autarca - Aljustrel, Manuela Parreira da Silva– Investigadora Pessoana, Professora e e Poetisa - Castro Verde, Pedro Mestre- Divulgador da Viola Campaniça/Músico e Cantor - Aldeia de Sete (Castro Verde) e Rosa Dias – Poetisa - Campo Maior.

Mas também outros amigos foram distinguidos que por razões de saúde ou profissionais não puderam estar presentes: Ana Borges - antiga delegada da DRCA, Luís Jordão- antigo Presidente da Casa do Alentejo, Manuel Macaísta Malheiros-Governador Civil de Setúbal, presidente da MAG desta Casa, sócio fundador e do Conselho Científico do CEDA, José Matias – sócio fundador do CEDA, moliniologista e autor de um dos trabalhos da colecção “Memória e Escrita Alentejana”, Sofia Fonte Santa - socia benemérita ( que cedeu a imagem do José da Fonte Santa para símbolo do CEDA), os poetas e escritores Víctor Encarnação, Hugo Santos e José Luís Peixoto, ,Monarca Pinheiro ( poeta e etnógrafo), os autarcas José Maria Pós-de Mina, António Tereno (sócio fundador e Presidente do CF do CEDA), José Ernesto de Oliveira, os músicos, intérpretes e/cantautores Francisco Ceia, Eduardo Ramos e Paulo Ribeiro (este representado na sessão por José Orta), o Constantino Piçarra – (historiador )o jornalista António José Brito ( Director do Correio do Alentejo, os dirigentes associativos Antero Silva, António Barradas e Constantino Cortes - integrou os órgãos sociais do CEDA e o grupo de trabalho inicial da “Nova Antologia dos Poetas Alentejanos” (no prelo), assim como Manuel Rosa, distinguido enquanto , apaixonada da Natureza.

Houve quem tivesse tido o cuidado de enviar mensagens de felicitações como foi o caso de Fernando Mão de Ferro, José Luís Peixoto ou Ana Borges – que com José Ernesto de Oliveira apoiaram a 1ª edição da Revista quando esta era apenas um projecto. “O CEDA defende a valorização da Memória, mas como é coerente tem memória e não esquece quem pela sua postura e pela sua prática apostou em nós” e dignificou o que significa ser Alentejano como foi também o caso de João Paulo Râmoa, que enquanto Governador Civil de Beja não deixou”cair” um protocolo com o CEDA, que assinou a poucas semanas do governo que o nomeara cair, o que possibilitou o arranque do Prémio Literário do CEDA.

Foi uma reunião de amigos? Também foi, mas estiveram lá muitos dos Homens e das Mulheres, que nas mais diversas áreas representam e o Alentejo tem de melhor, de mais inovador e onde tradição e modernidade se aliam na perfeição.

É uma honra ter um naipe de Amigos como estes “que se deslocam propositadamente à Casa do Alentejo para estarem connosco nesse
 dia em que se comemorou os
 100 anos da instauração da República em diversos locais da Margem Sul: Almada, Moita, Aldegalega, … “ referimos na altura.

A Sessão encerrou em confraternização, cantando-se os parabéns ao CEDA, saboreando lanche seguido do jantar, a voz e a viola campaniça de Pedro Mestre.


e a ... Poesia, sempre!

Dois poetas que me marcaram de uma forma decisiva.
Manuel da Fonseca e Federico García Lorca.


Um dia, com 12, 13 anos, numa sessão política, ainda no rescaldo do 25 de Abril, numa sala apinhada caminhava um homem já velho e falava. Não como os outros que diziam coisas que mal percebia, mas aderia entre o espanto e o entusiasmo. Mas aquele, mais velho e quase tropego dizia palavras tão belas como se fosse um pássaro que voava de ramo em ramo com toda a leveza do universo. Fazia poesia com cada palavra e eu estava maravilhado porque percebia tudo com uma clareza surpreendente, era como se aquele velho fosse um feiticeiro que falava só comigo e me dizia que havia um caminho para a Beleza, havia um caminho para o Amor, havia um caminho para a Vida; para eu não desanimar, não desistir, que aquela perca imensa de ter perdido o Alentejo anos antes era apenas um dos muitos obstáculos que surgiam no caminho, e que o universo me esperava... se eu quisesse percorrer o caminho, que podia ser ninguém e o universo ao mesmo tempo, como aquela figura poética do maltes que ele tanto simpatizava, porque ele também era um pouco assim: ser livre como o vento, maltês do vento. Anos mais tarde, ainda jovem, vim a privar com essa figura mitica do Alentejo que foi e é o Manel da Fonseca, passámos muitos férias próximos nos últimos anos da sua longa Vida na sua terra natal, entrevistei-o algumas vezes... ele aborrecia-se por eu não o tratar por tu e carinhosamente chamava-me Compadre. Nunca lhe disse - era tão tímido... ainda sou -
que nasci poeta no dia em que o ouvi falar da Beleza, do poder imenso da Poesia.
o Manel nasceu fez dia 15 de Outubro 99 anos.

Segundo Poema da Infância

                    (Manuel da Fonseca, in Rosa dos Ventos, 1940)


Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
…Como nasci poeta
devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem
[disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.

Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.
E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira
que levou o chapéu do Senhor Administrador!
Em toda a vila
se falou logo num caso de política,
o Senhor Administrador
mandou vir da cidade uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu…


Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!



Quase 10 anos depois de conhecer o Manel conheco Lorca, conheci-o por causa da sua peça "Yerma" que ia ser encenada no grupo (H)ORA VIVA, que fundara em 1982 em Setúbal com o Fernando Casaca, e um
um grupo de miúdos e muidas todos(as) mais novos(as) do que nós, que nós preparavamos para um dia ser adultos. Em 1985, depois de um prémio nacional, concretização de sonhos bonitos, e de ter conhecido a mãe da minha filha Sofia, a Isabel, em pleno palco - que representou uma Yerma fabulosa -, o ambiente tornou-se irrespirável...e parti p'rau Sul, parti para as planícies imensas do Alentejo andaluz em busca de Federico
e fui encontrá-lo em Fuentevaqueros cavalgando num corcel de prata, "eran las cinco en punto de la tarde". E de novo, ele falou-me,. como fizera o Manel 10 anos antes, falou-me  da beleza e do sofrimento, do infinito e de como a Plenitude e a Felicidade existe e é atingível, a Beleza e a perfeição não é impossível ... mas é caminho de tantos espinhos quantos momentos de extâse, no Amor, no Amor intenso, pleno, total, onde cabem o Sol, a lua, o mar, o céu inteiro, tanto como a transformação do sonho em realidade, nos projectos, na criação, na Vida. No ano seguinte, 1986, 50 anos depois de as forças das trevas, envergonhados carrascos que nem sequer assumiram o acto), tiravam a vida - mas não a imortalidade e o fulgor - a um dos homens mais luminosos que andou pelo mundo. Criador multifacetado: Poeta, romancista,
dramaturgo, músico, ensaísta,encenador, actor- percorreu o pais com a sua companhioa "La Barraca" levando o Teatro ao povo que não sabia - etc, etc, Federico García Lorca (1898-936)
génio criador que encarnou a Alma mediterrânica deste nosso Sul azul, mediterrânico. Lorca sabia-o e disse-o (transcrevo de cor) que a acção dos homens livres, a revolução é agir, construir com os olhos postos no futuro, para os homens e as mulheres que virão mais tarde. Lorca sabia que temos que ser puros, que ser verdadeiros, procurar a Plenitude com a maior doçura e intransigêncis do mundo, apesar das incompreensões do nosso tempo... Lorca, no dizer do poeta seu contemporâneo Vicente Aleixandre Era capaz de toda a alegria do universo. Mas a sua gruta profunda, como a de todo o grande poeta, não era a da alegria. Os que o viram passar pela vida como uma ave cheia de colorido, não o conheceram. O seu coração era apaixonado como poucos, e a sua capacidade de amor e de sofrimento enobrecia aquela nobre fronte.".
Em Setembro de 1986, durante seis dias Federico García Lorca foi homenageado durante uma semana em Setúbal. Participaram o antigo jornalista (relatou para o mundo o massacre do Badajoz) e Embaixador Mário Neves, Manuel da Fonseca, David Morão-Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, Blanco Gil, Jorge Listopad, que entre outros,estiveram em Setúbal, em sessões moderadas por Baptista Bastos. Encerrou com um momento sublime: um recital no Claustro do Convento de Jesus - local de excelente acústica - com Carlos Paredes e Manuel Alegre.
Tantos anos depois, percebi recentemente que com essa minha primeira grande realização cultural nasci para a acção, a luta permanente, a necessidade de através da Beleza, da Poesia, participar com a suprema serenidade na necessária transformação, na procura absoluta da Luz, no irreversível caminho da Plenitude... só saboreada quase longos vinte anos depois, no século seguinte.
Do também grande Poeta e Amigo José da Fonte Santa o poema "Á Memória de Federico García Lorca"
que com o belo desenho do mesmo autor foi o cartaz oficial da Homenagem:

À Memória de Federico García Lorca


                                        (José da Fonte Santa, 1925-1998, in Magia Alentejana Poesia e Desenhos)
              I

Uma menina anuncia
num búzio limpo de tempo
que Federico vem chegando
num poema azul
            dito por um cigano.

Vem sonhando,
mais leve que uma sombra,
infância seu regresso:
coração verde de pomba
                  feito verso.

Vem como se fosse:
flor, nascimento,
gesto fresco e puro
ternura encantamento.


             II


Quem não é poeta
                  tenta
mas não inventa
o estar lá
            não estando:
sortilégio dado
            no momento
em que se mostra
            o deslumbramento:
- criança debruçada
no rosto duma pomba
ouvindo uma guitarra
              imaginada
ao sabor do vento.

Quatro poemas do livro  Diván del Tamarit, Nova Iorque, 1940 (no original)

(Gacela Primera
Del Amor Imprevisto)
 
Nadie comprendía el perfume
da la oscura magnolia de tu vientre,
Nadie sabía que martirizabas
un colibrí de amor entre los dientes.
 
Mil cabalitos persas se dormían
en la plaza con luna de tu frente,
mientras que yo enlazaba cuatro noches
tu cintura, enemiga de la nieve.
 
Entre yeso y jazmines, tu moirada
era un pálido ramo de simientes.
Yo busqué, para darte, por mi pecho
las letras de martíl que dicen 'simpre'.
(excerto)
 
 Gacela  IX
Del Amor Maravilhoso
 
Con todo el yeso
de los malos campos,
eras junco de amor, jazmín mojado.
 
Con sur y llama
de los malos cielos,
eras rumor de nieve por mi pecho.
 
Cielos y campos
anudaban cadenas en mis manos.
 
Campos y cielos
azotaban las llagas de mi cuerpo.
 
 
Casida II
Del llanto
 
He cerrado mo balcón
porque no quiero oír el llanto,
pero por detrás de los grises muros
no se oye otra cosa que el llanto.
 
Hay muy pocos ángeles que canten,
hay muy pocos perros que ladren,
mil violines caben en la palma de mi mano.
 
Pero el llanto es un perro inmenso,
el llanto es un ángel  inmenso,
el llanto es un violín inmenso,
las lágrimas amordazan al viento,
y no se oye otra cosa que el llanto.


Casida IV
De La Mujer Tendida

Verte desnuda es recordar la Tierra,
la Tierra lisa, limpia de caballos.
La Tierra sin un junco, forma pura
cerrada al porvenir: confín de plata.

Verte desnuda es comprender el ansia
de la lluvia que busca débil talle,
o la fiebre del mar de inmenso rostro
sin encontrar la luz de su mejilla.
(excerto)

Um comentário:

Állyssen disse...

Lindos os poemas... lindos demais!
O da blusa é especial...

;*