9 de fev. de 2010

Se estivesses aqui era feliz! Festa da viola campaniça em Amoreiras

No passado dia 6, sábado, foi dia de festa em Amoreiras-Gare. O Grupo “Cantares da Serra de S. Martinho das Amoreiras” apresentou o seu novo CD As nossas modas Cante ao Baldão Cante ao Despique Violas Campaniças. A sessão teve lugar no Salão do Centro Social de Amoreiras-Gare e depois de um almoço de umas suculentas sopas de grão, iniciou-se com a intervenções de autarcas e dois especialistas em viola campaniça, José Alberto Sardinha e José Francisco Colaço Guerreiro, o Presidente do Município, apresentado pelo infatigável e alma da iniciativa, o amigo Antero Silva. Na assistência, estavam entre outros, o Presidente do Município de Castro Verde e o amigo António Camilo, que até Setembro liderou os destinos de Odemira.


Depois das intervenções seguiu-se a música, ou melhor o cante e o canto, isto é, desde o grupo anfitrião, o amigo Pedro Mestre e o seu Grupo de Violas Campaniças ou o Mestre Manuel Bento, entre outros, mas também Francisco Fanhais, que na sua voz inconfundível nos trouxe a magia de Sophia de Mello Breyner com“Porque”, ou o jovem Paulo Ribeiro, que com um registo diversificado e de grande subtileza cantou Almutâmide, Ibne Amar e temas de sua autoria.









cante, o canto… e a poesia...







No meio de muito poetas, coube-nos a nós, em parceria com Maria Vitória Afonso, o seu esposo Amadeu e o amigo José Orta divulgar a futura “Nova Antologia de Poetas Alentejanos”, a nós e ao Paulo que disse um poema de José António Chocolate Contradanças. “Dissemos” oito poetas, para além dos presentes e do José António: Francisco Naia, José Luís Peixoto, Maria Lascas e Vítor Encarnação.



A festa entrou pela noite dentro e se pecou foi só por excesso pois alguns poetas populares já não tiveram oportunidade de dizer os seus poemas. Aconteceu com José Carrilho Raposo, que nos possibilitou a publicação das quadras feitas para o efeito - as últimas feitas no local, porque de um poeta repentista se trata.


A Estação das Amoreiras


É uma terra tão gira
É de todas as mais porreiras
Do concelho de Odemira


É terra de gente boa
Carinhosos e hospedeiros
Acolhem sinceramente
Todos os seus forasteiros

Nesta terra maravilhosa
Do nosso querido Alentejo
Toda a gente está vaidosa
Neste tão belo festejo

Aqui se canta alentejano
Seu belo grupo coral
Praticam todo o ano
Seu instinto cultural

E a viola campaniça
Nesta área é vital
Que o seu vibrar nos cobiça
A única em Portugal

E o despique e o baldão
Um cante que tinha pernas
Se cantava ao balcão
Aos domingos nas tabernas


O cante mostra a cultura
Dum povo, da sua terra
A humildade e bravura
Da vila, aldeia ou na serra

Tal como a poesia
Que o poeta em voz calma
Declama com ousadia
Aquilo que lhe vai na alma

Porque a cultura dum povo
Também se faz a cantar
Eu venho do Pinhal Novo
Com a poesia popular




O cante, o canto e a poesia no mesmo palco.



“Eu sou campaniço tal como vós. (…) podem contar connosco, os que partimos há mais de quatro décadas, mas estamos sempre presentes. Porque a nossa Alma é Alentejana”


Houve momentos de grande emoção, como este em que pisávamos o mesmo palco que os Amigos Fanhais, Pedro Mestre, Paulo Ribeiro…



Houve momentos de grande beleza!


Houve momentos em que pensei, gritei mentalmente a plenos pulmões:


Se estivesses aqui era feliz!




e termino com dois poemas de José Luís Peixoto. Dois poemas de Amor...


A Verdade

tu és bonita.
tu és feita de sol.
eu amo-te.



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este livro. Passa um dedo pela página, sente o papel
como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.


este livro tem palavras. esquece as palavras por
momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.


sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre
a tua. damos as mãos quando seguras este livro.


não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.


pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre
o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.




                           (in A Casa, a Escuridão, Temas e Debates, 2002)

2 comentários:

Ezul disse...

É bom rever o Francisco Fanhais, nem que seja através de uma fotografia que, aliás, está excelente!
A força da poesia popular é insuperável: pelas palavras bem directas e sinceras, cheias de sentido e de beleza.
Não há melhor justificação para o Encontro de Poetas Populares...
:)

perfume de laranjeira disse...

De Maria Vitória Afonso, recebi a seguinte mensagem, que agradeço.

"Amigo Eduardo;Acabo de colocar um comentário muito sincero no seu
site. Como não parece ter ficado lá agradecia que o colocasse.

"Partilho toda a magia daquela tarde cultural.Porém só agora tive
acesso ao poema da pessoa maravilhosa que conheci.E compreendo o
legado de sensibilidade que transmitiu geneticamente a seu filho.
No rescaldo do encanto das violas campaniças mais um momento de fascínio."
Maria Vitória Afonso


Um abraço
M.V.