17 de out. de 2007

Não matem os Poetas!

Sento-me para tomar uma refeição leve num centro comercial algures em Lisboa. O espaço é agradável, não está a abarrotar de gente. Folheio o livro que saiu no Público sobre o Adriano. Um rapaz e uma rapariga conversam num mesa próxima. Ele de fato e gravata, ela de tailler; falam de como cair nas boas graças dos respectivos chefes, de como isso lhes ocupa as suas vidas, provavelmente de como isso os faz felizes.

Entro no carro, ligo o rádio e... oiço falar de Adriano. De como supostamente agora chegará aos mais jovens com as edições, tão tardias, da sua obra e de um projecto com jovens músicos e intérpretes, denominado Tributo. E fala da modernidade da sua obra, de como a sua voz limpida e bela levou a poesia de Manuel Alegre ao grande público e passam um tema belo, muito belo, da autoria de um poeta medieval, João Roiz de Castelo Branco, trovador como o Adriano foi, no dizer de Alegre, "Trovador dum tempo novo". Um tema que justamente dão como exemplo da modernidade em Adriano

Senhora, Partem Tão Tristes

Senhora partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem
Senhora partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem

Que nunca tão tristes vistes
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém
Outros nenhuns por ninguém

Partem tão tristes, os tristes
Tão doentes da partida
Partem tão tristes, os tristes
Tão doentes da partida

Da morte mais desejosos
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida
Cem mil vezes que da vida

E recordo, faz em Novembro 25 anos, numa sessão política, perante a estranheza da assistência, evoquei Adriano e li algo intitulado "Adriano, o Poeta", que terminava "Morreu de Amor, o Adriano". De Amor pela verdade, de Amor pela Vida, regressou à sua quinta de Avintes, a bordejar o Douro, partiu cansado... talvez de viver no meio da hipocrisia, da mentira, da ignomínia, da baixeza, da mediocridade, do espírito miudinho e tacanho que do Estado Novo perdurou e... hoje está de novo vivo empunhado pelos "Pequenos deuses caseiros", os pequenos títeres, que tentam sublimar as suas frustrações, as suas vivas pardas, desinteressantes e infelizes agrilhoando, pressionando, amordaçando quem almeja ser livre, tentando assim amedrontar, subjugar, fazer desistir... como se isso fosse possível!

Acordai! É tempo de acordar almas livres e puras. É tempo de passar do pensamento aos actos. É tempo de enfrentar a mediocridade. É tempo de dizer, de falar, de fazer bem alto! aos velhos do restelo, aos que nos querem chupar o sangue apenas porque não abdicamos do absoluto: Não permitiremos mais que matem os Poetas!

2 comentários:

Bichodeconta disse...

INCONFUNDÍVEL ESTE ADRIANO... BEIJINHOS.

Alexandre Júlio disse...

Apreciei o teu grito de revolta!

Estou certo que o Adriano, onde quer que esteja, tambem o ouviu.
Falavas da hipocrisia, no tempo do Estado Novo, o pior é que ela perdura e nos nossos dias.
O Adriano teve uma homenagem á sua altura este ano na Festa do Avante, estava sublime a evocação de um nome maior do canto de intervenção.
Bom fds por Montemor,
Alexandre