25 de set. de 2007

o desafio primordial... ou o feitiço da lua...

Numa noite de luar ensolarado estive no Residence Palace, ao Saldanha, na abertura de mais uma exposição do amigo Manuel Casa Branca, que parece ter "conquistado" definitivamente Lisboa. O meu, o nosso Alentejo do sabor das estevas e da eternidade das fragéis invencíveis papoilas, nestas paisagens de ancestral humanização de sobreiros de menires, de cromeleques, de Almendres ao Xerez revivido...


.. e depois encontrei uma personagem do meu livro, o músico António Ferro, acompanhante de Luís Cília... era uma tertúlia poética improvisada onde estava com o amigo cantador Domingos Breyener e o poeta diseur César Salvado ... e este quis apresentar-me uma amiga, amante de jazz, a Otília, companheira do António, que, de repente se reviu no livro que eu acabara de oferetar... ela africana de Angola, contou-me com orgulho ser filha de um alentejano de Castro Verde... e com eles estavam o Paleka, antigo músico do Sérgio Godinho e a sua companheira, a Guida cantora de jazz e pintora... foi numa noite de luar com conheci estes simpáticos amigos....







O mar beijando a areia
O céu e a lua cheia
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu
E a lua cheia
Que prateia os cabelos do meu bem
Que olha o mar beijando a areia
E uma estrelinha solta no céu
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu e a lua cheia
Um beijo meu





... e num dia solar ensolarado telefonou-me o amigo poeta de Campo Maior, Hugo Santos, e convidando-me para a entrega do Prémio Cidade de Almada a ... si próprio, 15 anos depois de ter sido já vencedor, o poeta amigo, avô do António Urbano, o bébe lindo que ilumina, com sua mãe, os dias do Mestre amigo Urbano...






... foi nesse dia, domingo solar em que, peito aberto aceitei o desafio do mar, quando me senti de repente arrastado dentro de uma corrente, sem nada perceberem os surfistas próximos, afinal era o único nadador... e por alguns segundos, minutos?... senti-me a caminhar para dentro do mar, vi-me menino no meu início de mim... de mão dada com uma menina... menina irmã gémea, irmã de sangue, minha alma e... depois aceitei o desafio e, no meu cavalo de vento, lutei pleno, desafiante da imensidão do mar, lutei poderoso em cada gesto e lentamente, muito lentamente comecei a vencer a corrente e ... já muito perto dos rochedos deixei-me planar nas rebentações fortes e... num ápice estava na praia... exausto mas... sorridente, sorridente para os banhistas que só se arriscavam na areia, ignotos da estranha magia acontecida, e os surfistas, , indolentes, jovens aborrecidos enfastiados da monotonia dos dias vazios nos seus fatos e pranchas sofisticados... e caminhei de cabeça erguida no desafio de mim próprio, leve como o vento e... uma gaivota passou e sorriu... seguia com olhar e... foi veloz, veloz para o mar ... onde vi sorrisos... logo não acreditei... mas eram para mim, feiticeiras vindas dos confins do mar sorriam para mim... e... continuei a caminhar, cabeça erguida, quase levitando no areal, no caminho da Verdade olhando de frente o Sol, o irmão Sol... mas ele também me sorria... então em extase enfeitiçado compreendi que soubera vencer o impossível... mas nada é impossível... soubera, frágil e poderoso, porque crente na justeza do caminho... conquistar o respeito da suprema mãe-natureza, enfeitiçado de luar ... irmão Sol, irmã lua...





e a na voz do vento... chegou-me um poema de Sophia
O mar azul e branco e as luzidias
pedras
Onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal, espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida


Um comentário:

Alexandre Júlio disse...

Cautela compadre do mar da Palha!

Olha que já não tens 20 anos, para te gladiares com as correntes traiçoeiras.
Mas ás vezes um teste destes também faz bem, desde que a gente chegue á costa sem grandes mazelas.
Até faz avivar a veia poética, olha vez como arranjastes logo inspiração, para toda esta poesia.
Agora de certeza que vais olhar o mar da palha com mais respeito.
Tens umas boas fotos ao Pôr do Sol, principalmente a penultima.
Agora tens é que comprar uma máquina melhorzita.
Um Abraço, Alex